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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Licantropia Folclórica (A nossa besta interior).Parte II

- Continuação : Por Amanda “le loup-garou” Teixeira Santos


II

Na Idade das Trevas

Por Amanda “le loup-garou” Teixeira Santos

“As características que distinguem o lobo são crueldade desenfreada, ferocidade bestial, fome insaciável, tendo a estranha capacidade de trabalharem em conjunto. Mas tem algo do demônio do inferno. São o símbolo da noite, do inverno, da tormenta e do misterioso prenúncio da morte”.
-Mont Gil Sommers, autoridade do século 19 em questões sobrenaturais.

Contudo, na Idade Média sob a influencia do cristianismo católico da época a visão sobre os animais e as metamorfoses foram tornando-se exclusivamente negativas. O lobo, sobretudo, tornou-se sinônimo de malignitude assassina, apesar de não haver relatos históricos ou provas de ataques de lobos a pessoas, o lobo foi associado ao prazer assassino e ao canibalismo.
A região mais alarmante era na França, onde o Lobisomem era conhecido como Loup-Garou (ou Loup-Garoux). Em média, 30 mil pessoas foram acusadas de serem Loup-Garoux e muitas foram queimadas com tal estigma. Mas a maioria eram pessoas perturbadas, com algumas tendências sádicas exagerada e canibais como Giles Garnier e o Marechal de Retz, que foram os casos mais famosos. Na França e em algumas partes da Europa é relatado nesse período que pessoas começavam a agir como lobos ou javalis, mas isso é provavelmente devido a um fungo com propriedade alucinógenas que infestaram, na época, a plantação do cereal do qual eram feitos os pães. Foi nessa época que surgiram histórias como a da “Chapeuzinho Vermelho” e dos “Três Porquinhos*”, com conteúdo pesado** e que serviam como alerta.

*Curiosidade: Nos tempos antigos as forças naturais tinham associações divinas e um termo metafórico podia ser levado na integra. Assim, em dias de tempestade em que os ventos “uivavam”, na imaginação popular lobos monstruosos que traziam as tempestades e soltavam esses uivos que devastavam as coisas...Por isso na história dos Três Porquinhos o Lobo Mal sopra as casas até cair.
**A principio, os “contos de fadas” surgiram na roda de conversas adultas, normal onde às mulheres se reuniam para fiar, e tinha conteúdo maduro, com alto teor de violência e sexualmente explicito. Apenas com o passar do tempo que os contos foram amenizados e infantilizados.

A partir da época do colonialismo expansionista proporcionado pelas navegações (e, posteriormente, por filmes de Hollywood), o conceito europeu/cristão do mito do Lobisomem foi largamente difundido e diversificado...

O lobo bate a sua porta- As lendas vivas ainda hoje

Deve-se notar entretanto, que "o lobisomem na tradição é a criação deliberada de um ser humano que, motivado por um desejo por poder ou vingança, procura liberar dentro de si a besta e realizar a transformação do ser humano no lobo. Isto quando alguém transforma-se em lobisomem com um pedido mágico e com o cuidado estruturado para conseguir a metamorfose no lobo”.
(Brad Steiger - O Livro do Lobisomem).

As lendas sobre licantropos continuaram, mas se intensificaram com as produções hollywoodianas. O cinema ajudou a difundir as lendas de Lobisomens, inventou novos mitos e formou o conceito geral do Lobisomem.

Os exemplos de lendas mais conhecidas atualmente:

Existe a lenda que uma pessoa só se transforma em lobisomem ao ser mordida por outro lobisomem e ser infectada. Então a maldição/doença só pode ser curada quando se mata o lobisomem que a mordeu. Essa lenda seria provavelmente fundamentada na raiva que era transmitida pela mordida ou contato com a saliva de cães, morcegos e lobos. É sabido que pessoas com raiva desenvolvem tendências como insônia e exagero a práticas sexuais.
Outra lenda muitíssima conhecida é a de o Lobisomem só se transformar em noite de lua cheia. Isso se deve a pessoas que sejam lunáticas, ou seja, que sofrem transtornos pela mudança da lua.

Outras lendas referem-se a transformação em lobisomem por meio de “rituais”. Na lenda portuguesa, o 7º (mas também varia entre o 5º ou 9º) filho incestuoso, e normalmente, sendo o único menino e ultimo a nascer e com algumas características peculiares como orelha pontuda, de 13 anos, se encontra no lugar onde se espojou um cavalo (ou um burro) numa noite de sexta-feira (de preferência 13). Daí em diante todas as sextas-feiras da meia-noite às 2h da manhã o Lobisomem visita a 7 cemitérios, 7 vilas, 7 colinas e 7 encruzilhadas e volta ao espojadouro, onde volta à aparência humana. Essa lenda também é famosa no Brasil, com poucas variações.
Em outras localidades o ritual está associado ao pacto com o Diabo ou outras entidades malignas.
Na Rússia, a pessoa que deseja se transformar deve procurar numa floresta uma árvore derrubada, esfaqueá-la com uma pequena faca de cobre e andar ao redor da árvore repetindo um encantamento, em seguida saltar três vezes sobre a árvore e correr para a floresta transformada em lobo.
Há quem diga que os Lobisomens são magos negros (hechiceros, na Europa) que conseguem colocar o corpo físico dentro da 4ª dimensão (estado de jinas) e assumirem a forma de lobos sangrentos que devoram pessoas.

As formas de cura são muito variáveis. Matar o Lobisomem que o infectou, certos amuletos, ervas ou ungüentos, um feitiço ou exorcismo sobre a pessoa, tirar 3 gotas de sangue da pessoa enquanto ela estiver na forma de Lobisomem ou falando o nome dele/dela enquanto ainda estiver transformado...

As formas de se descobrir e matar um Lobisomem também são inúmeras...A mais famosa é através da bala ou algum objeto de prata. Também há quem acredite que, fincar os pés juntos e abrir os braços (lembrando uma cruz) repetindo “eu creio” o Lobisomem ficara atormentado, pois não aceita a sua figura associada a Satã. Quando se mata um Lobisomem, dizem que se pronunciar o nome da pessoa ela voltara à forma humana...Ou quando se diz “matei um animal”, ela continuara com corpo de Lobisomem e quando se diz “matei uma pessoa” ela retornara a forma humana. Às vezes com ele ainda vivo, gritasse o nome da pessoa que se transformou 3 vezes e ela retornara a forma humana. Outra forma também é ao ferir e tirar sangue do Lobisomem, e ele voltara a ser pessoa. Quando se briga com um Lobisomem, o melhor é usar armas brancas pequenas, pois assim, com suas imensas patas e garras, ele não conseguira desarmar ou roubar a arma da pessoa.
A pessoa quando é Lobisomem podem ser reconhecidas por ter orelhas pontudas, sobrancelhas juntas, magreza, palidez, nariz fino... Outros dizem que é alguém ruivo. Também tem a de que é um lavrador, de aspecto rude, que de noite se transforma em lobo para pagar suas maldades.
Algumas outras características é a de que, quando transformados, deixam pegadas redondas como fundo de garrafa e soltam uivos longos.

Assim como no relato de Gaius Petrônios Arbiter (antiga Grécia), em seu “Satyricon”, em que ele andando junto a um soldado o vê tirar a roupa se transformar e, ao atacar a casa de Melissa sai ferido com um golpe de lança que comprova ser mesmo o soldado o mesmo lobo do ataque, há versões semelhantes onde o homem é descoberto após acharem ele com o ferimento de espada no mesmo lugar onde atacaram quando ele estava transformado. No Brasil, principalmente no interior e região nordeste, conta-se que um Lobisomem ao atacar uma moça que se defendeu usando um pano rasgou com os dentes o tecido, no dia seguinte viram um homem com um fiapo do tecido entre os dentes.

Logicamente, esses são apenas alguns exemplos de diversas lendas. Algumas são apenas variações destas citadas, apresentando poucas mudanças em um elemento ou em outro. Claro, deve haver umas mais exóticas e criativas.

O lado obscuro do homem...

“Entretanto, se pensarmos melhor, a bestialidade temida na transformação animal não é do animal, mas do próprio homem, porque essa bestialidade, que se exprime muitas vezes pela violência e pelo sangue, é a monstruosidade humana reprimida no mais profundo do subconsciente”.
(Rosane Volpatto)
É incontestável o fato de que os mitos são representações simbólicas; estereótipos de aspectos da mente humana. E o mito do Licantropo não é exceção à regra.
Lobisomens realmente existem, não com garras, pêlos, presas afiadas, uivos e aquelas transformações, mas sim dentro de nós. Imagine um homem aparente comum que num acesso de raiva começa a ofegar, grunhir e a tentar morder quem esta à volta. Essa é a Licantropia descrita no dicionário Houaiss como uma monomania na qual o doente se acredita transformado em lobo ou outro animal selvagem.
Ela pode ser desencadeada por drogas, mas em geral, resulta de algo reprimido dentro do nosso subconsciente, sejam desejos de poder, desejos sexuais ou um estado de profundo estresse e depressão.
Licantropia é uma doença mental, que deve ser tratada devidamente com profissionais especializados.
Todos nós temos este lado bestial dentro da gente e, em geral, o domesticamos e o controlamos. Por isso, devemos tomar cuidado e tentar sempre conhecer a nossa mente para que possamos tratar desse aspecto.



Referencias
· Lobisomem- Um Tratado Sobre Casos de Licantropia, Sabine Baring-Gould, ed. Madras
· Monstros da História nº1 Ano 1, ed. EM
· Wikipédia (Rainha Maeve; Peeira)

Licantropia Folclórica (A nossa besta interior).Parte I

Por Amanda “le loup-garou” Teixeira Santos


“Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele”.
(Daniel, capitulo 5:20)

Introdução

Lycos/Lico (lobo), Antrhpos/Antros (homem)
Licantropo (Homem-Lobo, Lobisomem/Lupisomem)

Pelos antigos, também se eram usados “quantropia” ou “boantropia” quando a metamorfose varia para cão ou boi, sendo estes menos usais.

Em outras línguas:
Versipélio dos Romanos, o Volkodlák dos eslavos, o Werwolf dos saxões, o Wahrwolf dos germanos, o Óboroten dos russos, o Hamtammr dos nórdicos, o Loup-garou dos franceses, o Lobisomem da Península Ibérica e da América Central e do Sul, com suas modificações fáceis de Lubiszon, Lubishome...

O que é licantropia
Licantropia é o nome cientifico e mais formal das metamorfoses de pessoas em animais, seja ela de maneira física ou mental. Geralmente a transformação da pessoa em lobo (mas pode variar), vulgarmente conhecida por nós como Lobisomens.

Origem da palavra e relatos Gregos
É sabido que relatos de metamorfoses remontam povos primitivos de varias localidades do globo, mas, a palavra Lincantropia, contudo, vem de registros gregos. É contado que Likaon/Lycaon, rei de Arcádia (terra celebrada pelos poetas gregos, onde se situavam terras belíssimas e seres fantásticos) duvidando da divindade de Zeus (Júpiter pelos romanos) convidou o deus para um banquete em seu palácio e secretamente serviu carne humana, pensando em enganar o todo poderoso. Zeus ofendido por tamanha afronta, puniu Lycaon transformando-o em lobo...

“Em vão, tentou falar; a partir daquele momento
sua boca espirava espuma e tinha sede
de sangue, enquanto vagava entre rebanhos
e suspirava por matanças.
Suas roupas transformaram-se em pêlos,
Seus membros ficaram atrofiados.
Um lobo, mas ainda mantendo parte de sua expressão anterior,
Grisalho como antes, sua fisionomia, furiosa,
Seus olhos brilham selvagemente, a imagem da fúria.”
(Ovídio, Metamorfoses)


Outras histórias sobre Lycaon são os relatos de Plínio e Agriopas. Plínio relata em Evanthes que durante o festival de Júpiter Lycaeus, um membro da família Antaeus foi escolhido aleatoriamente e conduzido ao lago Arcadiano. Ali ele retirou suas vestes e ao entrar na água transformou-se em lobo. Nove anos depois, se não tivesse provado carne humana, poderia nadar no lago e retomar sua forma anterior. Já no relato de Agriopas, Damaeneteus ao ter assistido um sacrifício humano em Arcádia, no qual Júpiter Lycaeus comeu a carne, transformou-se em lobo e vagou por dez anos, depois voltou à forma humana e participou dos Jogos Olímpicos.

Também é possível verificar a metamorfose de homens em lobos nos relatos de Heródoto, entre outros historiadores da Antiguidade. Nas palavras de Herótodo: “Parece que os Neuri* são feiticeiros, se alguém acredita nos citas e nos gregos estabelecidos na Cítia, pois cada Neurian transforma-se, uma vez por ano, na forma de um lobo e permanece nesta forma durante vários dias, depois dos quais retorna à sua forma anterior” (Lib. IV. C. 105). E de acordo com Pomponius Mela: “Existe um período especifico para que cada Neurian se transforme, se quiser, em lobos, retomando em seguida à sua condição anterior.” (Lib. II. C. 1).

*Neuri, também conhecidos como Neuros.
Esses são apenas os relatos gregos, da onde vieram à definição atual. Mas povos muito mais antigos têm seus relatos e lendas. É interessante notar que o mito da metamorfose é um mito global!!! Cada região tinha um animal em especial fora o lobo, sendo a hiena na África, o urso e o javali na Europa, o tigre na Ásia...A figura do lobo se tornou universal porque na antiguidade o lobo ocupava grandes territórios, cujos espécimes se estendiam das Américas a Oceania*.

*O lobo cinzento na América Norte e Central, Europa e Rússia. O lobo ibérico na Europa. Espécies de lobo extintos no Egito e no Japão. O lobo guará na América do Sul e os dingos na Austrália. Entre outras espécies espalhadas pelo globo.

Há muito tempo atrás ...
“Se viver com lobos, uive como um lobo”.
(Provérbio russo)

Nas crenças primitivas, tais como o xamanismo, a relação Homem e Natureza é estreita, e os aspectos naturais estão intimamente ligados as praticas religiosas. São comuns relatos de sacerdotes e xamãs que incorporavam espíritos de animais ou rezavam por seu auxilio num ritual ou num ato de cura. Também é possível verificar a adoração pelos animais nas imagens chamadas “Totens”...Cada pessoa tem um animal totem que a auxilia de alguma forma pela vida. Também vemos nesses povos, visivelmente nos índios norte-americanos, que cada pessoa aspirava um aspecto animal para si e que os personificavam (como nos nomes indígenas: Coiote Louco, Touro Sentado, etc).
Nesse caso, os animais eram reverenciados e normalmente atribuídos a coisas boas...Ter algum aspecto animal costumava ser visto como uma benção e não uma maldição.
Nas suas diversas atribuições, o lobo, por exemplo, era visto como símbolo de sabedoria e era visto como o “professor”. Pois na observação desses povos, o lobo ensinava a viver com a família e a comunidade e ao mesmo tempo manter a identidade individual. Também eram vistos como guias do mundo espiritual. A imagem do lobo por estes povos também está fortemente associada à proteção da Mãe Natureza, onde o lobo é visto como guardião.

Na antiguidade com uma Europa diversificada em crenças, cada povo atribuía aos animais aspectos e simbolismos bons e maus. Certos animais eram representantes de algum deus, como Loki que se transforma num salmão, o corvo que representava Morrighan e etc. A metamorfose e a metempsicose* eram largamente usadas pelos sacerdotes e feiticeiros. Havia muitos métodos de transformação, os mais difundidos eram: ter um pedaço do coro do animal como vestimenta ou acessório que se usado transforma a pessoa no animal, passar um ungüento especial pelo corpo e começar a imitar um animal.

*Metempsicose. Doutrina baseada na gradação entre animais e homens, onde é possível uma possessão/transmigração da alma do homem num animal e vise-versa, através de um ritual ou da reencarnação.

Também nos tempos antigos, o lobo estava associado com a mulher. Conhecidas também como “She-Wolf”, era a representação da mulher livre, independente e ativa. Normalmente poderosas guerreiras e/ou sabias feiticeiras. Estas mulheres eram conhecidas na América Norte e Central e Europa (os nórdicos a chamavam de “VARGYNJER”). Também leva em conta a figura da mulher madura e sedutora, do qual temos a expressão contemporânea “idade da loba”. Sabe-se, por exemplo, que segundo os celtas, a Rainha Maeve (rainha irlandesa celta reinou em Connacht e pertenceu ao Ciclo de Ulster), cujo nome significa “mulher ébria” ou “rainha-loba”, era cultuada como Deusa da guerra por seu desempenho nas batalhas e por exercer um forte fascínio, principalmente sexual. Na tradição portuguesa e galega, outro aspecto feminino atribuído aos lobos era a peeira (ou fada dos lobos), jovens que se tornavam guardadoras e companheiras dos lobos, seriam as versões femininas dos Lobisomens e tem o poder de se comunicar e controlar alcatéias.

Therian Brasil

Este espaço foi criado para difundirmos conceitos, elementos e características sobre a theriantropia.

Terminologia da palavra Theriantropia:
Do grego Therios (animal) + Anthropos (homem) = theriantropia.

Nota:Alguns textos tem seu conteúdo constantemente alterados, conforme a possibilidade.

Therian = individuo que acredita haver (ou ser) um animal dentro do seu EU(que pode ser emocional, espiritual ...ou qualquer outro).